terça-feira, 23 de junho de 2015

O crioulo André Rebouças (ou, "Meus heróis eram de direita, e morreram de rejeição da direita)



Há cerca de uns 12 ou 15 anos, tento entender este rapaz.

Mulato (em tese). Crioulo (de fato). — Foi o maior engenheiro que o Brasil já teve. De fato o maior engenheiro do mundo, em sua época (Há quem diga).

Esse cara entrava no palácio do Imperador (D. Pedro II), à hora que bem entendia. No maior respeito, claro.

Dizia: — "Pedro! É necessário fazer um Cadastro da Terra. Dividir a terra!"

Só tem 1 problema. Esse cara era "de direita". Direitão. Direitíssimo. Direitoso até não poder.

Seu objetivo era implantar o capitalismo — em oposição ao "feudalismo" territorial.

Só queria 2 ou 3 coisas.

1) Acabar com a escravidão — sem pagar 1 centavo de "indenização" aos escravocratas. Indenização, se houvesse, deveria ser paga aos negros.

2) Toda terra onde houvesse 1 negro cultivando há mais de 10 anos, deveria ser dado o título de propriedade ao negro.

Evidentemente, esta foi a História não contada, do 13 de Maio. Zilhões de escravos, que cultivavam 1 quadradinho de terra, foram escorraçados a ferro e fogo, ao amanhecer do dia 14, para que nem 1 centímetro quadrado dos latifúndios fosse desmembrado. (Como na lei inglesa, onde ao primogênito cabia o título de nobreza, — e toda a terra, indivisa, — e aos demais só restava o engajamento na política, na Marinha, no Exército, na Igreja ou no serviço público).

3) Afora isso, defendia — apenas — uma reforma agrária radical. Coisa de deixar o MST encabulado.

Esse rapaz (já "maduro", 1/2 velho, digamos) se opôs à República.

(ele, e também José do Patrocínio).

Não, contra os republicanos (que sempre foram abolicionistas). Contra, os "republiquistas" (que nunca foram).

Os escravocratas que, afinal, se apossaram da "República".

Mas esse rapaz, aí, foi, sim — sem a menor dúvida — um direitista.

Direitista militante.

Ferrenho. Convicto. Militante.

Comunista, para ele, era bicho de 7 cabeças. Coisa para ser perseguido e linchado.

Ele, pessoalmente (e ideologicamente), era pelo Sublime Jesus. Doce pessoa.

Tipo assim.

Sim. Metade (+1) de meus heróis, nunca foram "de esquerda". Nem morreram de overdose.

Morreram de — tentativa de serem aceitos pela direita — que nunca foi boba, e nunca aceitou "direitistas" assim.

Usou-os — e os liquidou.

(*) Este pobre autor está apenas há 12 ou 15 anos tentando entender esse negócio. Havia uma "Guarda Negra" (demonizada por toda intelectualidade "civilizada", que evidentemente aplaudiu a ditadura dos coronéis do café. Tem menos de 12 ou 15 anos que ouvi (inadvertidamente) o depoimento de um crioulo, — que ouviu de outro etc., — o seguinte diálogo, transmitido oralmente, de mestre para abadá, desde 1800 e lá vai pedrada:

- Implantaram a República! 
- O que é isso!... Implantaram a República sem consultar a capoeiragem??

Pois, foi.

Sem consulta.

Sem o menor respeito pela capoeiragem.

Nem, pela Guarda Negra de José do Patrocínio. Que, afinal, vinha a ser apenas um outro nome, para a mesma pessoa.

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