quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A Vale vai entrar nos trilhos

Saiu hoje no Valor Econômico que a Vale pretende construir uma fábrica de trilhos em Governador Valadares, Minas.

A intenção é produzir 500 mil toneladas/ano de trilhos para abastecer suas próprias ferrovias e o mercado em geral. Atualmente, todos os trilhos utilizados no Brasil são importados, pois, em 1996, a CSN foi privatizada e desativou o lamidador destinado a sua produção, uma vez que não tinha para quem vender. Naquele época, governo FHC, o país não implantava, só sucateava ferrovias.

O mais irônico é que os trilhos, feitos na China e na Polônia com minério exportado pela Vale são comprados aqui pela Vale – a maior operadora ferroviária do país, com 10 mil quilometros de linhas -  e pela Valec, subsidiária da Vale que ficou fora da privatização. Em 2009 e 2010, importamos US$ 600 milhões em trilhos e, no início deste ano, a Valec lançou um edital para comprar R$ 807,2 milhões.

O governo federal - tanto Lula como Dilma - tem incentivado a montagem de uma nova fábrica de trilhos no Brasil, mas o país não pode ficar esperando eternamente que os empresários se disponham a isso e, aí, tem de importar ou parar o programa destinado a mais que dobrar a rede ferroviária nacional. Temos hoje, em andamento, 3,5 mil quilômetros de ferrovias em obras.

E a Vale - do tucano Agnelli - que comprou na Ásia os navios para transportar nosso ferro, também pretendia comprar lá os trilhos  que permitem levar o minério até os porões de cargas nos portos.
  • de Carlos Eduardo Campanhã
    data 10 de agosto de 2011 18:08
    assunto A Vale vai entrar nos trilhos
Sobre o "caso Vale"

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Dependesse do Estadão, o Brasil nem faria aço

O Estadão, hoje, tem um daqueles momentos de sinceridade antológicos.

É o editorial intitulado “A Vale ainda não entrou na produção de aço, felizmente“.

Depois de algumas lágrimas por Roger Agnelli, o jornalão começa a entregar o seu pensamento colonial.

Por ele, o Brasil ainda seria um pequeno país atrasado, que nem mesmo produziria aço.

Comemora o fato de não aparecer um sócio capaz de colocar dinheiro no projeto da Cia. Siderúrgica de Ubu (CSU) que a Vale pretende instalar no Espírito Santo.

Como se sabe, só há dinheiro de capitalistas para investir em especulação com dólar, uma coisa extremamente mais útil ao país do que produzir aço.

Produzir aço, no Brasil, é algo supérfluo e antieconômico.

Pelo  Estadão, o Brasil só exportaria minério de ferro.

Aquela tal de Companhia Siderúrgica Nacional – esqueça os livros de história que dizem que ela foi fundamental para a industrialização do país – não deve ter passado de um arroubo populista de Vargas.

Afinal, diz o porta-voz de nossas oligarquias, nossas jazidas são “praticamente inesgotáveis”.

E desfaz da óbvia vantagem de podermos fazer aço perto das “jazidas praticamente inesgotáveis” porque  com “o uso de navios gigantescos, se tem reduzido muito nos últimos anos (o custo de se transportar milhões e milhões de toneladas de minério bruto), especialmente quando esses navios podem retornar transportando petróleo”.

Viram que beleza? Exportamos mais ferro e importamos mais petróleo. Só falta sugerir que deixemos lá este “petróleo anti-econômico” do pré-sal.

Evidente que ninguém quer que o Brasil deixe de exportar minério. Mas o que temos é de resolver os problemas estruturais que nos impedem de avançarmos, como poderíamos, na competividade em matéria de siderurgia.

Mas para que resolver problemas, se podemos vender nosso minério, fresquinho, arrancado do chão? O buraco que eles deixam, a riqueza que se vai, nada disso é importante. Importante são os lucros rápidos e de baixo investimento que fazem adorável a nossa elite colonial.

É o modo Joaquim Silvério dos Reis de pensar o Brasil.

Brizola Neto | O Tijolaço | 21 Jul. 2011

http://www.tijolaco.com/dependesse-do-estadao-o-brasil-nem-faria-aco/

Sobre o "caso Vale"

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Ariano Suassuna: um espetáculo de lucidez


Ariano Suassuna impressiona tanto pela autenticidade  como pela simplicidade ao transpor a barreira da formalidade que muitas vezes imagina-se que a cultura pressupõe.

Ariano também não se esquiva de questões políticas, sendo uma exceção dentro de um universo de intelectuais e artistas que foram inclusive imprescindíveis no processo de redemocratização, mas hoje preferem se esquivar. Uma esquiva preocupante e conveniente, diga-se. Na verdade, todos os intelectuais e artistas de projeção deveriam ser mais claros nos seus posicionamentos em relação às questões cruciais e de interesse coletivo da nação. Ariano Suassuna, paraibano, figura no grupo dos que não sobem no muro, e esta é mais uma dentre tantas razões para que não deixemos de destacá-lo.

No vídeo a seguir, o escritor fala de suas origens e da importância da cultura popular. Em seguida, o ex-presidente Lula faz algumas considerações sobre a relação que tem com Ariano. Assista:

Com Lula na platéia, Ariano Suassuna emociona e faz rir em 'Aula Espetáculo', by Pragmatismo Politico

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O vôo da Juriti


O Vôo da Juriti

(Aldo Justo / Paulo Tovar)

Meu coração tem um desejo imenso
De ver o dia nascer pelo avesso

Meu coração mão de pilão
Tem o jeito do avoar

Bota água na bacia
Que a cara do dia
Está querendo vir

Tira a tranca da janela
Que de manhã cedo eu quero ver
O vôo da juriti




terça-feira, 12 de julho de 2011

Jornalista Cristina Guimarães: “Se dependesse da Globo, eu estaria morta”

“Se dependesse da TV Globo, eu estaria morta”. A declaração da jornalista Cristina Guimarães – vencedora do Prêmio Esso em 2001, junto com Tim Lopes, pela série ‘Feira das drogas’ – promete causar polêmica e agitar os bastidores do caso que ficou conhecido em todo o país. De volta ao Brasil após passar oito anos se escondendo de traficantes da Rocinha, que ameaçavam matá-la depois de reportagem veiculada no Jornal Nacional, ela conta em livro como a TV Globo lhe virou as costas e garante que o jornalista poderia estar vivo se a emissora tivesse dado atenção às ameaças recebidas.

De acordo com Cristina, sete meses antes de Tim ser morto por traficantes do Complexo do Alemão, ela entrou com uma ação judicial de rescisão indireta, na qual reclamava da falta de segurança para jornalistas da emissora. As denúncias integram o livro que está sendo escrito por Cristina e deve ser lançado nos Estados Unidos, no início do próximo ano. A obra, segundo a jornalista e publicitária, também deve virar filme.

“Não dava para escrever meu livro no Brasil. Aqui a Globo ainda tem uma influência muito forte e a obra poderia ser abafada de alguma maneira. Com o apoio do governo americano, fica mais fácil lançar nos EUA”, pondera.

O que motivou as suas denúncias de omissão contra a TV Globo na Justiça?

Trabalhei durante 12 anos na TV Globo. Em 2001, estava fazendo produção para o Jornal Nacional junto com o Tim Lopes. Produzíamos as matérias de jornalismo investigativo do telejornal. Quando o Tim trouxe o material da feira de drogas ao ar livre na Favela da Grota (Complexo do Alemão), a chefia de reportagem me chamou e perguntou se eu conhecia outras feiras deste tipo. Respondi que na Rocinha e na Mangueira o mesmo acontecia e a chefia do JN me pediu para fazer imagens lá. Fui três vezes à Rocinha e duas à Mangueira, para conseguir um bom material. Na primeira vez que estive nos dois lugares, reclamaram que as imagens não estavam boas e exigiram que eu voltasse até o material estar com boa qualidade. O grande problema começou um mês depois da exibição da série. Comecei a ser duramente ameaçada por traficantes, sem nenhum respaldo da emissora, e decidi ingressar com uma ação judicial pedindo segurança.

Quando começaram as ameaças de traficantes?

Por volta de um mês depois da exibição das matérias, começaram a me telefonar de um orelhão que fica dentro da Favela da Rocinha me chamando de ‘Dona Ferrada’ e dizendo que me pegariam. Diziam também que eu não escaparia, era questão de tempo. Diante das constantes ligações, conversei com a chefia do JN e pedi proteção. Fui ignorada. Dias depois, sequestraram um produtor do Esporte Espetacular, o levaram para um barraco na Rocinha. Bateram muito no coitado. Os traficantes queriam saber se ele sabia quem tinha ido à favela fazer as imagens, mas o produtor não sabia. Era de uma editoria diferente da minha e realmente não sabia. O que me assustou foi que a TV Globo não me falou nada. Eu estava voltando de um mês de férias e soube do episódio pela Folha de S. Paulo. Quiseram abafar as ameaças e a ligação entre os dois casos: as ameaças feitas contra mim e o sequestro do Carlos Alberto de Carvalho. O episódio me deixou ainda mais assustada, porque aí eu tive a certeza de que não podia contar com a emissora para nada. Procurei a polícia, registrei o caso na 10ª DP (Gávea), mas acho que sentaram em cima do processo. Na verdade, devem estar esperando para ouvir a outra parte – os traficantes. (risos).

Então, com a denúncia à polícia as ameaças não pararam?

Muito pelo contrário. A coisa corria solta e ninguém fazia absolutamente nada. Mas o que tirou meu sono foi quando prenderam um garoto da Rocinha que pagava propina a um coronel. Fui cobrir o caso e me desesperei. Ao encontrar o moleque detido, ele olhou bem para mim e disse ‘É, tia! Eu tô ferrado, mas tu também tá. Tá todo mundo atrás de você lá na Rocinha. Tua cabeça tá valendo R$ 20 mil’. Naquele momento, tomei a dimensão da situação em que eu me encontrava. Ele descreveu a roupa que eu usava quando ia à favela fazer as imagens. Todo o meu disfarce: meu boné surrado, a bermuda, a cor da camiseta.

Com o processo você conseguiu desligamento da TV Globo?

Sim. Por meio da ação judicial que emplaquei no Ministério do Trabalho, meu vínculo com a TV Globo acabou. Sinceramente, hoje eu tenho mais medo da TV Globo do que dos traficantes. O traficante pode te ameaçar e ser violento. No entanto, ele avisa e depois cumpre. A TV Globo é traiçoeira. Enquanto você é subordinado e faz o que te pedem, você é bonzinho. Já quando você questiona os riscos que ela te impõe e se nega a fazer alguma coisa por temer pela sua própria vida, você é tachado de louco. Traficantes me parecem mais confiáveis.

Você acha que estaria morta se não tivesse travado uma briga judicial com a TV Globo para não ser mais obrigada a produzir matérias que colocassem sua vida em jogo?

Já estaria morta há muito tempo. A Globo não quis saber se eu corria risco de vida. Os meus chefes diziam que as ameaças que eu recebia por telefone eram coisas da minha cabeça. Não me arrependo de ter largado a Globo para trás. A minha vida vale muito mais do que R$ 3.100, que era o meu salário em 2001.

A morte do Tim poderia ter sido evitada pela emissora?

Sem dúvida nenhuma. Eu falei sobre os riscos que estávamos correndo sete meses antes de os traficantes do Alemão matarem o Tim Lopes. Eu implorei por atenção a estas ameaças e o que fez a TV Globo? Ignorou tudo. Sete meses depois, eles pegaram o Tim. Na ocasião do Prêmio Esso, antes de o Tim ser morto, eu liguei para ele e o alertei sobre os riscos de ter exposto seu rosto nos jornais. Na nossa profissão, é preciso ter muito cuidado para mostrar a cara. É muita ingenuidade achar que traficante não assiste TV e não lê jornal.

Procurada pela reportagem do Jornal do Brasil, a assessoria da Rede Globo não retornou às solicitações para esclarecimento das acusações desta matéria.

por Maria Luisa de Melo, no Jornal do Brasil

sugestão de Urariano Motta ao Viomundo | 12 Jul. 2011 às 16:03

http://www.viomundo.com.br/denuncias/jornalista-cristina-guimaraes-se-dependesse-da-globo-eu-estaria-morta.html

Livro resgata história da guerrilha de Porecatu

Símbolo da luta camponesa pela distribuição de terra no Brasil, a história da guerrilha de Porecatu, no Paraná, é resgatada no livro "Porecatu: a guerrilha que os comunistas esqueceram", do jornalista Marcelo Oikawa.

Além de influenciar a criação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais, a guerrilha “motivou a assinatura do primeiro decreto de desapropriação de terras para fins sociais”.

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Após 20 anos de pesquisa, o jornalista explica como ocorreu a guerrilha de Porecatu e como se deu a relação entre posseiros de Porecatu e o Partido Comunista Brasileiro – PCB. Segundo ele, como estava na ilegalidade, o PCB tentou alcançar o poder “partindo do campo para as cidades”.

Esta decisão, menciona, veio a “calhar com as necessidades dos posseiros de Porecatu que vinham resistindo como podiam contra os grileiros, jagunços e a polícia, desde 1944. Em 1948, a convite dos próprios posseiros, o PCB entra na luta para liderá-la, imaginando que ela seria ‘a fagulha que iria incendiar o campo’, como diziam os dirigentes comunistas da época”.

Das 3 mil famílias que lutaram pela distribuição da terra, apenas 380 foram assentadas. Dos participantes da “chamada aliança operário-camponesa em Porecatu, apenas Manoel Jacinto era operário. Os demais comunistas, além dos trabalhadores rurais, eram ex-militares, médicos, advogados, engenheiros, professores, comerciantes etc.” conta ele, em entrevista à IHU On-Line por e-mail.

Apesar de ter lutado ao lado dos camponeses na década de 1950, integrantes do PCB e das dissidências PCdoB e PCBR evitam comentar o tema. Para o jornalista, o silêncio justifica-se porque “boa parte do PCB considerou Porecatu um dos maiores erros de sua história. Uma outra parte simplesmente silenciou (...). Terminado o conflito, as autoridades disseminaram pela imprensa que Porecatu não tinha tido importância, que havia sido algo espontâneo, errático, pequeno. Também muito curiosamente, setores da esquerda assumiram essa postura”.

Marcelo Oikawa é jornalista, paulista, foi repórter dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, atuou na região norte do Paraná e foi correspondente de diversos outros veículos de comunicação.

Confira a entrevista.

De onde vem seu interesse em pesquisar a guerrilha de Porecatu?

Sempre ouvia falar da guerrilha de Porecatu, mas ninguém sabia dizer muita coisa, senão que havia sido sangrenta. Como jornalista na região, sempre que visitava Porecatu e tocava no assunto, sentia que as pessoas evitavam o assunto com muito medo. Também há o fato de que minha família era próxima da família de Manoel Jacinto Correia, um comunista que foi um dos líderes daquela resistência. Ele passou a vida criticando e lamentando que a direção do Partido Comunista tivesse impedido a negociação oferecida pelo governo do Paraná, após anos de lutas, apesar da vontade dos posseiros. Manoel considerou um grave erro a recusa em negociar.

Por que Porecatu é um exemplo típico de como se formou a propriedade da terra no Brasil?

O Brasil colônia foi ocupado por capitanias hereditárias e sesmarias sempre tratadas com muito desinteresse por seus donatários. Com a Proclamação da República, requerimentos de posse deram entrada em cartórios por todo o território nacional sem nenhuma comprovação. Em muitos casos esses requerimentos se sobrepuseram a outros dando origem a disputas. É o caso de Porecatu, com a agravante de que o próprio governo estadual chamou os posseiros para ocuparem a região e depois os considerou intrusos.

O senhor afirma que Porecatu foi a primeira Liga Camponesa do Brasil. É isso mesmo? Não foi no Nordeste que elas se originaram? Qual a origem desse nome?

Sempre se achou que a primeira Liga Camponesa do Brasil foi a Dumont, de Ribeirão Preto, criada em 1945. Mas Porecatu a precedeu, fundando as duas primeiras associações de lavradores do país. O conflito em Porecatu registrou a criação de mais de uma dezena dessas associações, já com o nome Liga Camponesa. Foram precursoras das famosas Ligas de Francisco Julião, no Nordeste.

Qual a importância de Porecatu na luta camponesa brasileira?

É a primeira luta camponesa brasileira sem o componente religioso ou messiânico como Canudos e Contestado. É o evento inaugural que vai influenciar dezenas de lutas que ocorreram no Brasil a partir de Porecatu, inclusive com a criação dos primeiros sindicatos de trabalhadores rurais. Porecatu motivou a assinatura do primeiro decreto de desapropriação de terras para fins sociais. Também foi lá que se usou pela primeira vez a palavra camponês para designar o trabalhador rural sem terra, colono, arrendatário ou pequeno proprietário.

Por que o PCB decidiu se envolver nos conflitos camponeses e deslocar quadros para apoiar a luta dos posseiros?

Com o início da Guerra Fria, os partidos considerados comunistas foram colocados na ilegalidade. Com isto, no Brasil, os comunistas mudaram sua estratégia e tática, passando a considerar a via revolucionária para o poder, partindo do campo para as cidades. Esta decisão vem a calhar com as necessidades dos posseiros de Porecatu que vinham resistindo como podiam contra os grileiros, os jagunços e a polícia, desde 1944. Em 1948, a convite dos próprios posseiros o PCB entra na luta para liderá-la, imaginando que ela seria “a fagulha que iria incendiar o campo”, como diziam os dirigentes comunistas da época.

Os trabalhadores receberam bem e aceitaram a liderança do PCB? Como se deu a luta? Houve enfrentamentos, muitos morreram?

O PCB foi para os trabalhadores uma esperança de conquistarem finalmente os títulos de propriedade. Os conflitos, com táticas de guerrilha, se estenderam até junho de 1951, período em que os combatentes chegaram a controlar uma área de 40 quilômetros quadrados. Para se ter uma ideia da violência que imperava na região, em 1953 dois jornalistas da revista O Cruzeiro realizaram um levantamento nos cemitérios da região e descobriram que metade das covas eram ocupada por corpos de pessoas assassinadas.

A aliança operário-camponesa sugerida pelo PCB deu certo na luta em Porecatu?

Por responsabilidade do próprio PCB, a luta de Porecatu acabou fracassando. De mais de 3 mil famílias lutando pelos títulos, apenas 380 foram assentadas. E nessa chamada aliança operário-camponesa em Porecatu, apenas Manoel Jacinto era operário. Os demais comunistas, além dos trabalhadores rurais, eram ex-militares, médicos, advogados, engenheiros, professores, comerciantes etc.

O que mais lhe impressionou na pesquisa dos arquivos do DOPS e na leitura do diário de Hilário Gonçalves Pinha, um dos comandantes militares da luta armada?

Na pesquisa do DOPS, constatei que, nos 70 anos de funcionamento desse organismo policial no Paraná, Porecatu deu origem à maior quantidade de documentos policiais, mais do que o movimento dos estivadores no Porto de Paranaguá e o movimento dos ferroviários do estado. E no diário de Hilário, o que impressiona é sentir o calor dos acontecimentos e a sua descrição do confronto que causou o maior número de baixas entre posseiros, jagunços e polícia.

Quais foram as conquistas e as derrotas em Porecatu?

Marcelo Oikawa – Em minha opinião, as grandes lições de Porecatu são a descoberta pelos camponeses do valor da união, do trabalho em mutirão, da importância da organização. A experiência de Porecatu vai influenciar as lutas camponesas que ocorreram em vários pontos do país e do Paraná a partir da década de 1950. E a derrota ensinou, tarde demais, que é preciso ter amplitude na tática de luta, saber avançar e saber recuar, saber exigir e saber negociar.

Como os jornais da época abordavam os conflitos em Porecatu?

Marcelo Oikawa – Os jornais comunistas – haviam vários, praticamente um em cada um dos estados mais importantes – apoiavam, faziam campanhas de arrecadação de fundos e donativos. A grande imprensa da época cobria o conflito com grande alarde, mas é possível notar que agiam de acordo com seus próprios posicionamentos partidários. Na imprensa do Paraná, esse viés era escancarado. O interessante é que na maior parte do tempo esses jornais culpam seus adversários políticos pela situação em Porecatu. Somente anos mais tarde começam a chamar a atenção para a ação comunista.

Por que, em sua avaliação, dirigentes do PCB da época pouco tocavam no assunto da guerrilha de Porecatu e por quais razões, mais tarde, homens que se dividiram entre PCB, PCdoB e PCBR não falaram sobre o tema?

Essa é uma pergunta que está até hoje sem resposta. Por que se calaram? Uma boa parte do PCB considerou Porecatu um dos maiores erros de sua história. Uma outra parte simplesmente silenciou. É curioso notar que em 1954, em Trombos e Formoso, Goiás, o próprio PCB vai propor um acordo ao governo do Estado para solucionar os conflitos pela terra. Os dirigentes do PCB eram os mesmos. Talvez falar de Porecatu implicasse em admitir um erro importante.

Por que o senhor afirma que o PCB deliberadamente “esqueceu” de Porecatu? E, no mesmo sentido, por que a história de resistência dos posseiros em Porecatu é desconhecida para a maioria das pessoas?

Terminado o conflito, as autoridades disseminaram pela imprensa que Porecatu não tinha tido importância, que havia sido algo espontâneo, errático, pequeno. Também muito curiosamente, setores da esquerda assumiram essa postura. Por medo, a região sepultou a história em sua memória. Os únicos registros que restaram são as ações judiciais que estão depositadas sem grandes cuidados no Fórum de Porecatu e nos arquivos do DOPS, bem como com alguns familiares de comunistas que viveram a época.

Na avaliação do senhor, o que o MST herdou das ligas camponesas?

Não tenho conhecimentos suficientes para fazer uma comparação entre o MST e a luta camponesa da época. O que eu posso fazer é relatar uma experiência que vivi recentemente: ao finalizar o livro, decidi viajar à região para procurar os cenários da guerrilha.

Tive como guia dois líderes do MST na região. Além de encontrar o que procurava, encontrei também o que não procurava: várias fazendas que, na época, tiveram greves de trabalhadores e que ainda continuam lá, com o mesmo nome. Reinvidicavam, por meio de greves, melhores condições de trabalho e um maior apoio aos posseiros. Essas fazendas hoje são assentamentos ou acampamentos do MST.

Naquela época, os trabalhadores dessas fazendas foram os primeiros prisioneiros feitos pela polícia quando ela penetrou no perímetro do território controlado pela guerrilha. Os trabalhadores de hoje que lá estão continuam fazendo história, lutando pelos mesmos sonhos de 60 anos atrás.

Do IHU On-Line, via MST | 12 de julho de 2011

http://www.mst.org.br/node/12136

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Cuba-Brasil, 25 anos do reatamento

Com financiamento do BNDES, constrói-se o Porto de Mariel, decisivo no fortalecimento econômico de Cuba. Será o maior porto do Caribe. Na prática, empresas brasileiras furam o bloqueio à Ilha. Em outro projeto, Brasil e Cuba estão cooperando na produção de vacinas para a África.

Neste mês de junho, completam-se 25 anos do reatamento das relações entre Brasil e Cuba. Era Sarney o presidente. A ruptura veio no golpe de 64. Sob a ditadura muitos trabalharam para pavimentar o caminho da retomada. Chico Buarque, o jornalista Fernando Moraes com o seu livro “A ilha”, a imprensa alternativa e de esquerda, Frei Betto e Frei Boff e tantos que fizeram um trabalho anônimo para que hoje Brasil e Cuba tenham as excelentes relações que possuem, Mas, podem expandir-se

Há uma nova situação política na região, que pode ser melhor aproveitada pela Solidariedade a Cuba, que também neste mês de junho, realiza sua Convenção Nacional. Para além de todas as bandeiras históricas já defendidas, há imensas possibilidades de ampliar e qualificar as relações bilaterais Brasil e Cuba, que neste momento já cooperam em programas importantíssimos.

Com financiamento do BNDES, constrói-se o Porto de Mariel, decisivo no fortalecimento econômico de Cuba. Será o maior porto do Caribe. Na prática, empresas brasileiras furam o bloqueio à Ilha. Em outro projeto, Brasil e Cuba estão cooperando na produção de vacinas para a África, inclusive na especialização de médicos timorenses formados em Cuba que passam pela Fiocruz antes da volta ao Timor.

Para citar mais um, Cuba e Brasil estão cooperando também no sistema de saúde do Haiti, com financiamento brasileiro de 80 milhões de dólares, mais pessoal e tecnologia. Eis porque Fidel, visionário, declarou em encontro internacional, em 2005, preferir soldados brasileiros a marines dos EUA no Haiti. Como indica o raciocínio de Castro, a cooperação Brasil-Cuba é estratégica para muitos povos. E pode ser qualificada com mecanismos de cooperação melhor trabalhados. Exemplo: na área da informação, colocando-se em prática o convênio da EBC com a Prensa Latina e a Telesur, para que o povo brasileiro escape do bloqueio informativo de que padece sobre as conquistas sociais da Ilha.

Beto Almeida* | Carta Maior | 27 Jun. 2011

* Jornalista, Membro da Junta Diretiva da Telesur.

http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=5102

De respeito mesmo, parece que no PR só tem o Tiririca

Mesmo assim, o partido endurece o jogo contra Dilma

Inacreditável, mas rigorosamente verdadeiro: embora esteja mais para quadrilha organizada e confraria de picaretas do que para partido político, o Partido da República  (PR) resolveu peitar o Governoe redobra exigências e exige satisfações.  Este é o grau de avacalhação (a palavra é dura, mas é adequada) a que chegaram as relações do Planalto com sua base aliada. Tudo em nome da governabilidade.

Convidado pela presidente Dilma para ocupar o lugar do demitido Alfredo Nascimento no Ministério dos Transportes, Blairo Maggi, ex-governador de Mato Grosso e atual senador, faz doce, pede  tempo para pensar, diz que está mais preocupado com seus negócios e, finalmente, manda o recado: exige uma satisfação em relação ao “mal tratamento” sofrido por seu protegido Luiz Antonio Pagot, diretor do Dnit, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.

Este, por sua vez, está na cota de demitidos da cúpula do Ministério.  A demissão só não teria sido formalizada porque, oportunamente entrou de férias, segundo ele, por recomendação da chefe da Casa Civil da Presidência, Gleisi Hoffmann. Esta, porém, nega ter feito tal sugestão.

Pagot  segue , assim, como moeda de troca. E prossegue a novela cada vez mais enrolada, exatamente como quer e recomenda Valdemar Costa Neto, o verdadeiro dono PR e presumível agenciador de todas (quase todas) as negociatas operadas no Ministério. Sua estratégia resume-se nesta máxima: “O negócio é deixar a onda passar”.

Enquanto isso, prestigiado pelo chefe Maggi,  Pagot enche o peito e fornece uma pequena mostra do que pretende dizer caso  seja chamado a depor na Comissão de  Ética do Senado  que deverá investigar Nascimento: “O diretor de Infraestrutura do Dnit, Hildebrando Caron (filiado ao PT), é responsável por 90% das obras”.

Há quem diga que Dilma  não recuará de sua decisão de demitir Pago.  E  há quem acredite que, assim com Lula fez tantas vezes, ela engolirá  mais este sapo.

Tudo isto está mais para crônica policial que política. Por isso mesmo, cabe a pergunta:  Vale a pena para o Governo e para o PT  chafurdar nesse lodo de corrupção e chantagens? Tudo é feito em nome da governabilidade. Mas que governabilidade é está?

Ainda há uma meta ou algum vago projeto socialista que  justifique  tantos meios escusos e tanta concessão fisiológica a partidos como o PMDB e o PR que são escancaradamente instrumentos de uma pacto conservador, tanto do Grande Capital (principalmente o Financeiro e o Agrário) como de certas seitas fundamentalistas e  espantosamente retrogradas?

Do jeito como as coisas ficaram arrumadas, não é o PT e o Governo que usam a aliança no  seu interesse. Eles são usados. Tanto que a mídia, serva obediente do Capital Financeiro, está cada vez mais dilmista.

A grande distorção da política brasileira e que deveria estar sendo denunciada pelo PT e  servindo de argumento para a convocação de uma  Constituinte é  a de que o Grande Capital, através dos partidos fisiológicos e dos ideologicamente de direita, ocupa mais de 70 % das cadeiras  do Congresso. De que valeram, afinal, os 50 milhões de votos obtidos pro Dilma?

Francisco Barreira | 08-07-11

O “Jeito Dilma” de fritar “companheiros”

Na quarta-feira à noite,  a presidenta Dilma Rousseff convidou o senador do PR e ex-governador de Mato Grosso,  Blairo Maggi para assumir o Ministério dos Transportes no lugar de Alfredo Nascimento que ainda nem tinha sido demitido oficialmente. Blairo pediu 48 horas para pensar  e para consultar as lideranças do partido.

O ex-governador matogrossense  é  um dos dez maiores latifundiários do Brasil, o maior produtor individual de soja do Mundo e um aos  maiores desmatadores do de todos os tempos. Pelo menos em Mato Grosso, ninguém pode dizer que abateu tantas árvores quanto ele.

Ao convidá-lo para substituir Nascimento, a presidenta  mirava três objetivos:

1- Não travar as negociações, com o PR, considerado um aliado importante com seus 42 deputados e seis senadores.

2- Precaver-se  contra as ameaças de Luiz Antônio Pagot, amigo íntimo e homem de  confiança de Maggi. Ao saber que seria demitido do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), um dos maiores focos de corrupção do  MT, ele circulou pelo Senado,  terça-feira, dizendo-se magoado com o Governo e  insinuando que  não deixaria  barato o desaforo.

3- Eliminar, através  de um fato consumado e da nomeação de um senador, qualquer possibilidade de articulação por parte do inescrupuloso deputado Valdemar Costa Neto, secretário-geral do PR e que age como dono do pedaço, sendo considerado  a principal  peça de  todas as negociatas, num ministério recordista nesta modalidade.

Valdemar, aliás, é do tipo que não esquenta,  calejado que está com todos os tipos de escândalo. Na quarta-feira ele dizia, fazendo graça para os amigos, que ainda não sabe, mas vai descobrir, se as informações sobre as falcatruas estão sendo passadas para imprensa pelo Palácio do Planalto ou por elementos do próprio PR.

O agonizante ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, pediu demissão quarta-feira à  tarde. Mesmo assim, agora que volta a ser senador, dispôs-se comparecer às várias Comissões do Senado, inclusive a de

Ética, para tentar explicar a inexplicável e escancarada roubalheira que  há sete anos ocorre debaixo de seu queixo, no Ministério.

A presidenta Dilma  cumprirá a promessa de nomear um substituto filiado e indicado pelo PR, partido do Nascimento e do Garotinho que há pouco mais de um mês, como autêntico chantagista, referiu-se a Palocci como “uma  jóia de 20 milhões de reais.

Mas ela não esconde sua preferência por Paulo Sérgio Passos, um técnico que como secretário-geral,  está ocupando interinamente o cargo de ministro.

Como este blog revelou, há três dias, as informações sobre irregularidades no MT vazaram para  a imprensa diretamente  do  Palácio do Planalto.  Na verdade, a presidenta Dilma tem “a maior bronca” contra Nascimento desde os tempos em que era chefe da Casa Civil, via tudo, mas,  em nome da “governabilidade”, não podia fazer nada.

A agonia de Nascimento foi semelhante à sofrida por Palocci, há dois meses.  Diariamente aparerciam novas acusações e escândalos. Quarta-feira foi a vez do filho de Nascimento, Gustavo, um jovem que aos 27 anos  já acumulou uma fortuna de 50 milhões de reais, a partir de uma pequena empresa criada  há dois anos.

O maior problema  do ministro defenestrado  foi o de ser  torpedeado  não apenas pelo  Planalto e pelos demais partidos da base governista que estavam de olho no seu cargo, como também por seus  próprios colegas do PR que queriam livrar-se dele para ver se salvavam o Ministério.

Para se ter idéia da determinação da presidenta em fritar o ministro e seus auxiliares , basta ler estas  poucas linhas veiculadas pela Folha de S. Paulo também na quarta-feira:

“O governo informou na terça-feira que o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit), Luiz Pagot, será exonerado do cargo ao voltar de férias. Ele e outros integrantes do governo ligados ao PR são suspeitos de irregularidades em obras do setor, segundo reportagem da revista Veja. Um dos nomes que a presidente Dilma Rousseff já chegou a cogitar para substitui-lo é o de Hilderaldo Caron, ligado ao PT e um dos diretores do Dnit.

A decisão de exonerar Pagot foi tomada ainda na quarta-feira em reunião de Dilma com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Pagot foi ao Senado na terça-feira para se reunir com senadores do PR. Ele disse estar “magoado” com o Governo”.

Francisco Barreira | o5-07-11 atualizado em 08-07-11

Analistas e pesquisadores  (historiadores em perspectiva) já detectaram a diferença essencial entre Dilma Rousseff e Lula: ela  pretende ser bem menos complacente com os desvios de conduta ou corrupção escancarada dos “companheiros” que compõem a base aliada do Governo.

Lula governou sob a síndrome da necessidade de governabilidade a qualquer  preço. “Se o que temos para governar é esse lixo, governaremos com esse lixo”. Ou seja, fazia-se vista grossa ou mesmo tentava-se abafar os escândalos dos indispensáveis aliados no Congresso. Na prática, criava-se uma lealdade mafiosa, ainda que  o chefe não sujasse as mãos.

Seja como for, Lula jamais se conformou com o fato de  ter sido derrotado, por um único e mísero voto  na  questão do Imposto do Cheque. Uma questão que beneficiou aos banqueiros, mas que a mídia marota conseguiu vender como uma vitória dos contribuintes.

Entretanto a questão  é mais sutil e grave. Nas conversas íntimas da qual só participam os colaboradores mais  próximos, o próprio Lula e algum  marqueteiro ocasionalmente convocado  para consultas, chegou-se ao consenso  de que já está colando no PT a imagem de um partido que, mesmo que  não meta as mãos na massa, faz qualquer negócio para governar.

E não é uma imagem pintada apenas pela sempre belicosa mídia  ou pelos oposicionistas de profissão. É algo que como  uma verruma está penetrando nas mentes da opinião pública ampla, aquela que inclui o que não são leitores habituais dos grandes jornais. E é aí que as imagens transformam-se em manchas que jamais serão extintas. Ficam perenes no eleitorado e na História.

Adhemar de Barros e Paulo Maluf, mesmo na hipótese de que jamais tivessem metido a mão em um único tostão, imortalizaram-se como ladrões e não há nada  que possa ser feito contra isso.

Se subirmos o tom para alcançarmos o sociologuês, diremos  que a presidente Dilma, Lula e seus colaboradores mais íntimos sabem que será um desastre se a referida imagem  negativa do PT prosperar, sobretudo em meio a um eleitorado onde predomina cada vez mais a classe média recheada  anualmente por  novas levas de emergentes.

E este seguimento social, que já é majoritário, tradicionalmente distancia-se da luta clássica de classes (capital x trabalho) e supervaloriza no seu conceito  e no seu voto, ainda que com boa dose de ingenuidade ou  hipocrisia, os valores morais e éticos.

Vai daí que Dilma Rousseff  pretende acrescentar ao seu  modelito bem sucedido de gerente competente e exigente, um outro: o de fiadora da moralidade pública, pelo menos no âmbito do Governo. O ministro  José Eduardo Cardozo, da Justiça, é  um os principais defensores desta postura.

A fritura em si

E  é nesse contesto que se dá a atual fritura do ministro Alfredo Nascimento, dos Transportes, representante do PR no bolo governamental. Todos sabem que ele não é flor  que se cheire, nem muito menos  o verdadeiro dono do partido, o deputado  Waldemar Costa  Neto, um escroque sob qualquer ângulo que se olhe: ele só não está preso porque é deputado e só não foi cassado na legislatura passada porque renunciou ao mandato.

 Neste fim de semana, Dilma Rousseff analisou, com auxiliares, possibilidade  de afastar Alfredo Nascimento do cargo de ministro. Alguns nomes para substituí-lo chegaram a ser selecionados. E lembremos que foi ela  quem  levantou a suspeita de superfaturamento no Ministério e exigiu de Nascimento o afastamento (na verdade demissão)  de seus principais auxiliares.

Entretanto, nas últimas 24 horas a presidenta recuou e confirmou sua confiança em Nascimento através de nota oficial. A desculpa oferecida em off aos jornalistas foi a de que ela ainda está estudando uma forma de contornar uma possível crise com o PR que, afinal, possui seis senadores e  mais de 40 deputados. É, sem dúvida, uma peça importante na base governista porque, além disso, lidera um bloco de mais sete partidos menores, somando um total de 64 parlamentares.

Há também a versão de que Waldemar Costa Neto teria ameaçado botar a boca no trombone, assim como Roberto Jefferson fizera no episódio do “Mensalão”. O estrago seria grande.

Mas a análise mais justa é que indica o seguinte: este é o jeito tortuoso que a presidenta adotou para livrar-se de Nascimento. E notem que há certa semelhança com o desfecho sofrido por Antônio Palocci que foi “prestigiado” até  o momento mesmo em que subia ao patíbulo.

E tudo isto começa a fazer mais o sentido quando crescem as suspeitas (mais evidências que suspeitas) de que os detalhes sobre as picaretagens da cúpula do Ministério dos Transportes (o quarteto demitido) foram fornecidos à Veja pelo Planalto.

À la Thatcher

É famosa a entrevista da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher que, anos depois de deixar o governo, confessou que sempre que queira “fritar” um ministro mandava um assessor de confiança  vazar os malfeitos do  infeliz para um órgão de imprensa importante.

E ela tinha o cuidado de fazer uma espécie de rodízio. Ou seja: nunca vazar duas vezes para o mesmo veículo, para não criar privilégios ou desconfianças.

Qualquer semelhança com a “fritura” do ministro Nascimento não é mera coincidência.

Francisco Barreira | Texto de o5-07-11

http://fatosnovosnovasideias.wordpress.com/ultimahora/

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Os sinos de Nagasaki


Paulo Nagai era médico, especialista em pesquisas radiológicas na Universidade de Medicina de Nagasaki, e nessa atividade já se havia contaminado pela radiação nuclear, quando a bomba atômica foi detonada sobre a cidade em 9 de Agosto de 1945.

Juntamente com os demais sobreviventes do hospital universitário, organizou o atendimento inicial às vítimas da cidade e das regiões próximas, durante os primeiros dias após a catástrofe, até que um serviço regular pudesse ser estabelecido.

A maior parte da cidade, formada por casas na tradicional arquitetura de madeira, bambu, papel, desapareceu em segundos, ou talvez numa fração de segundo.

Nagai perdeu a esposa, e permaneceu vivendo em Nagasaki, como milhares de sobreviventes, em barracos improvisados. Ali criou os filhos, preso à cama pela rápida progressão da leucemia, de que já sofria antes. Faleceu seis anos após a explosão, em 1 de Maio de 1951.

O livro recompõe o momento da explosão a partir dos relatos de sobreviventes, os efeitos imediatos, os trabalhos de socorro às vítimas, algumas observações sobre sintomas e remédios nos dias que se seguiram.

Parte significativa do livro é dedicada ainda à filosofia. Convertido ao catolicismo depois de adulto, Nagai traça um quadro rápido de sua formação e dos motivos que o levaram à religião.

O título refere-se à torre da igreja católica, uma das poucas construções de alvenaria. Aparentemente, o vento deslocou o trajeto da bomba em sua direção.
  • Livraria Editora Flamboyant, São Paulo, SP, 2a. Ed., 1959, 202 páginas. Pode ser encontrado em inúmeros sebos virtuais.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Governo pressiona Vale? Então vejam os argentinos…

O Valor Econômico publica hoje matéria sobre os apuros em que se vê metida a Vale, acusada pelo governo da Província (Estado) de Mendoza de não cumprir os acordos de fazer compras locais para um projeto de mineração. A empresa tem cinco dias úteis para apresentarum novo plano de investimentos para o projeto Potássio Rio Colorado, caso contrário, poderá perder a concessão da mina, localizada no município de Malargüe e comprada à mineradora Rio Tinto em 2009.

As obras civis, diz o jornal , “foram suspensas na sexta-feira, após autoridades provinciais terem detectado vários descumprimentos do acordo feito para a liberação do projeto”. A Vale planeja investir US$ 4,5 bilhões para produzir até 4,3 milhões de toneladas por ano de cloreto de potássio, insumo usado na fabricação de fertilizantes.

O subsecretário de Hidrocarbonetos de Mendoza, Walter Vásquez, diz que a empresa desrespeitou a especificação e os prazos de cada investimento em curso, além de violar o acordo conhecido como “Compre Mendocino”. Esse acerto previa a contratação local de 75% da mão de obra, além de “prioridade” a fornecedores de produtos e serviços da região. “Se a empresa não entende esse conceito, não nos interessa que desenvolva suas operações aqui.”

Ou seja, na Argentina eles não fazem negócio com quem compra tudo na China,

Tijolaço | 20 Jun. 2011, 09:13

http://www.tijolaco.com/governo-pressiona-vale-entao-vejam-os-argentinos/

Brasil investirá R$ 1,7 trilhão em máquinas até 2014, aponta IBGE

Os investimentos da indústria e da infraestrutura no Brasil devem consumir R$ 1,76 trilhão em máquinas e equipamentos nos próximos quatro anos. É o que mostra um estudo da área de pesquisa econômica do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), que será publicado nos próximos dias. A cifra representa 56,2% do total de inversões projetadas pelo banco para o período entre 2011 e 2014: R$ 3,34 trilhões.

No trabalho, os economistas do Bndes Fernando Puga e Gilberto Borça Júnior demonstram que, apesar de ser uma das menores do mundo, a taxa de investimento brasileira produz um efeito maior e mais rápido no crescimento. Diferentemente da maioria dos países, a maior parte das inversões no Brasil se dá em bens de capital, e não no componente da taxa relativa à construção, uma característica que, para o Bndes, está se aprofundando.

Eles chegaram a essa conclusão ao investigar a composição da formação bruta de capital fixo no Brasil, historicamente baixa em relação ao PIB e considerada o principal obstáculo para o crescimento mais robusto da economia sem pressões inflacionárias.

Em uma comparação internacional a partir de dados do Banco Mundial, de 2005, a taxa de investimento brasileira, de 16,3% do PIB, figurava em último lugar entre outros 20 países. A China já liderava, investindo robustos 41,5% do PIB, seguida por nações como Espanha (29,4%), Índia (28,5%) e Japão (23,1%). No entanto, analisando apenas o componente relativo a máquinas e equipamentos, o Brasil alcançava 7,9% do PIB, superando países como Reino Unido (5,8%), Espanha (7,2%), França (5,8%), EUA (5,8%) e até a média mundial (7,6%).

O Brasil ainda perdia nesse quesito para países asiáticos como China (11,5%), Índia (13,1%) e Coreia do Sul (9,1%), mas a distância fica bem menor do que na comparação da taxa agregada. Para os economistas, isso mostra que não há uma defasagem muito grande entre o padrão de investimento na produção e modernização das empresas brasileiras e o das de outros países.

“A taxa de investimento agregada do Brasil está na lanterna e isso dá uma percepção de que o nosso parque industrial estaria muito defasado, obsoleto por causa do baixo investimento. No entanto, quando olhamos apenas para máquinas e equipamentos, estamos investindo até acima da média mundial”, diz Puga.

Borça Júnior explica que a predominância do componente de bens de capital, que tem relação direta com a capacidade de gerar mais oferta de produtos para equilibrar a pressão do consumo, confere à taxa de investimento brasileira maior produtividade em relação ao crescimento da economia.

“Essa composição é mais benéfica. Conseguimos um crescimento maior com um esforço de investimento menor”, diz o economista. “Concordamos que o Brasil precisa de uma taxa de investimento maior, mas vimos que a defasagem brasileira em relação ao mundo está na parte de construção, pelas décadas recentes sem desenvolvimento do crédito habitacional e problemas fiscais que inibiram investimentos em infraestrutura.”

Essa característica, admitem os autores, revela um desafio ainda presente de acelerar a construção de residências e de grandes equipamentos de infraestrutura, que têm impacto indireto na produção e promovem bem-estar. No entanto, eles destacam que a expansão recente do crédito imobiliário e das obras públicas indica avanço no segmento de construção, mas sem tirar a liderança dos bens de capital, já que os investimentos estimados pelo Bndes até 2014 concentram-se em setores intensivos em maquinário.

O de petróleo e gás, por exemplo, consome aproximadamente 94% dos seus investimentos em máquinas e equipamentos. Apenas 1% é destinado à construção e 5% para outros itens. Isso significa, segundo o Bndes, que o setor deverá demandar sozinho R$ 355,7 bilhões em máquinas e equipamentos até 2014.

A indústria como um todo deve consumir R$ 832,1 bilhões em bens de capital até 2014, com destaque para a extrativa mineral (R$ 67,2 bilhões), siderurgia (R$ 28,4 bilhões), veículos (R$ 25,6 bilhões) e celulose (R$ 21,4 bilhões). Já a construção na indústria demandará bem menos: R$ 180,2 bilhões.

Mesmo nos investimentos de infraestrutura, como portos, telecomunicações, ferrovias e geração de energia elétrica, o consumo de bens de capital é maior do que o de construção, respondendo por 70% dos R$ 400 bilhões em investimentos planejados até 2014.

Subsídio do PSI não pago pode ultrapassar R$ 8 bilhões em 2012

O Tesouro Nacional aparentemente ainda não fez nenhum pagamento para cobrir os subsídios do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), iniciado em 2009. Assim, uma despesa primária, correspondente a recursos que o Tesouro deve repassar para o Bndes, pode estar sendo acumulada e jogada para a frente. Se nenhum pagamento for feito ao longo deste ano, a conta pode ultrapassar R$ 8 bilhões, em 2012.

O PSI, que pode subsidiar um volume de empréstimos de até R$ 208 bilhões, foi criado em 2009, para combater os efeitos da crise global, e é voltado principalmente para a aquisição de máquinas e equipamentos. Como tem juros mais baixos do que as linhas convencionais do Bndes, o programa conta com um subsídio explícito do Tesouro. O problema, porém, como detectou o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é que a rubrica dos gastos federais - Equalização de Taxas de Juros nas Operações de Financiamento Destinadas a Aquisição e Produção de Bens de Capital e a Inovação Tecnológica -, voltada ao subsídio do PSI, indica que nenhum pagamento foi feito em 2010 nem em 2011.

Quanto maior a demora, maior é o esqueleto, diz Ipea

A falta de pagamento dos subsídios do PSI não levaria a prejuízos o Bndes ou os bancos privados repassadores de recursos da instituição. O motivo é simples. Os contratos não obrigam que esses subsídios sejam pagos todos os meses pelo Tesouro Nacional. Os pagamentos podem ser feitos periodicamente e o próprio Bndes, que tem sobra de recursos das transferências do Tesouro nos últimos três anos, pode arcar com esses pagamentos dos subsídios aos bancos privados e, posteriormente, ser ressarcido pelo Tesouro Nacional. O problema com essa estratégia, como alerta o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é que o pagamento desses subsídios aparentemente não vem sendo contabilizados como deveriam, ou seja, como despesa primária.

Assim, em algum momento futuro, o Tesouro terá de passar a contabilizar essas despesas no seu gasto, aumentando o gasto primário e reduzindo o superávit primário. “Quanto mais o Tesouro demorar para efetuar esses pagamentos, maior será o esqueleto fiscal”, diz o economista, que acredita que se deixará para 2012 e para os anos subsequentes.

Notícia da edição impressa de 20/06/2011

Jornal do Comércio | 19/06 22h50

http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=65412&codp=21&codni=3

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sexto trabalhador rural é assassinado no Pará

Foi assassinado no Acampamento Esperança, município de Pacajá, Pará, o trabalhador rural Obede Loyla Souza, 31 anos, casado, pai de três filhos, todos menores, na quinta-feira (9/6), por volta do meio dia,.

Os indícios são de que Obede foi executado com um tiro de espingarda dentro do ouvido, a 500 metros de sua casa.

Seu corpo foi encontrado somente no sábado, dia 11, por volta das 14h, e levado para a cidade de Tucuruí, onde foi registrado o Boletim de Ocorrência Policial.

Após seu corpo ter sido liberado para o sepultamento, já no cemitério, a Força Nacional chegou à região, suspendeu o enterro e levou o corpo para Belém para perícia.

Na madrugada desta terça-feira, o corpo chegou de volta a Tucuruí, para sepultamento.

Ainda não se sabe exatamente o motivo que provocou o assassinato da vítima. Sabe-se somente que pelo mês de janeiro ou fevereiro, Obede teria discutido com alguém que representa na região o interesse de grandes madeireiros.

Obede questionou o fato de estarem extraindo madeira de forma ilegal, principalmente castanheira, que é proibido por lei, e por estarem deixando as estradas de acesso ao Acampamento Esperança e aos Assentamentos da região, intrafegáveis nesse período de chuvas.

No dia do assassinato, pessoas viram uma camionete de cor preta com quatro homens entrando no acampamento. Os vidros da camionete estavam abaixados. Quando perceberam que estavam sendo avistados, imediatamente suspenderam os vidros. A pessoa que os viu está assustada, pois acha que pode estar correndo perigo.

Na mesma época que Obede discutiu com essas pessoas ligadas a representantes dos grandes madeireiros da região, Francisco Evaristo, presidente do Projeto de Assentamento Barrageira e tesoureiro da Casa Familiar Rural de Tucuruí, também discutiu com eles pelo mesmo motivo.

Francisco afirma que há alguns dias um homem alto, moreno, com o corpo tatuado e em uma moto estava à sua procura no Assentamento Barrageira e que, por duas vezes, já foi avistado nas proximidades de sua residência, porém em nenhuma das vezes ele lá estava.

Francisco, assim como a pessoa que avistou os quatro homens na camionete no dia da execução do Obede, correm perigo de morte.

Da Comissão Pastoral da Terra | 14 de junho de 2011

http://www.mst.org.br/node/11975

Mais um trabalhador rural é assassinado no Norte do país

Brasília – Menos de um mês depois de quatro ativistas ambientais serem mortos no Norte do país, o trabalhador rural Obede Loyla Souza, de 31 anos, casado e pai de três filhos, foi assassinado no Pará, no último dia 9. A Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica, informou que ele foi morto com um tiro no ouvido e que o corpo foi encontrado na cidade de Tucuruí – considerada uma das principais áreas de exploração ilegal de madeira da região, principalmente da castanheira.

De acordo com a CPT, não há informações sobre as razões que levaram à morte de Obede. Mas testemunhas contaram que, entre janeiro e fevereiro, o agricultor discutiu com representantes de madeireiros na região.

Informações obtidas pela comissão apontam que, no dia do assassinato de Obede, uma caminhonete de cor preta com quatro pessoas entrou no Acampamento Esperança - onde morava o agricultor. O presidente do Projeto de Assentamento Barrageira e tesoureiro da Casa Familiar Rural de Tucuruí, Francisco Evaristo, disse que viu a caminhonete e considerou o fato estranho. Como Obede, ele também é ameaçado de morte.

No fim de maio, quatro ambientalistas foram assassinados – três no Pará e um em Rondônia. A lista de pessoas ameaçadas, segundo a CPT, contabiliza mil nomes. O documento já foi entregue às autoridades brasileiras e também estrangeiras.

A presidenta Dilma Rousseff convocou uma reunião de emergência, no último dia 3, para discutir o assunto em Brasília. Ela ouviu os governadores do Pará, Simão Jatene, do Amazonas, Aziz Elias, e de Rondônia, Confúcio Moura. Também estavam presentes na reunião seis ministros – Nelson Jobim (Defesa), José Eduardo Dutra (Justiça), Maria do Rosário (Secretaria de Defesa dos Direitos Humanos), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário).

Ao final da reunião, a presidenta determinou o envio de homens da Força Nacional de Segurança ao Pará. Os homens chegaram ao estado no último dia 7 e devem permanecer no local por tempo indeterminado, segundo as autoridades brasileiras.

Renata Giraldi, Repórter da Agência Brasil | Edição: Lílian Beraldo | 14/06/2011 - 12h09

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-06-14/mais-um-trabalhador-rural-e-assassinado-no-norte-do-pais

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Investimentos no setor sucroalcooleiro são criticados por movimentos sociais

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi homenageado pelo setor sucroenergético brasileiro durante o 2º Prêmio Top Etanol, realizado nesta semana em São Paulo. Os empresários e produtores da indústria da cana-de-açúcar decidiram pela homenagem em função dos esforços de Lula no desenvolvimento deste setor durante seu governo.

Na mesma semana, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, divulgou que o Banco pretende emprestar R$ 35 bilhões a empresas do setor sucroalcooleiro nos próximos quatro anos. Os recursos fazem parte de um plano de investimentos em usinas de açúcar e álcool, e para a renovação das plantações de cana do país.

Para o integrante da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Jaime Amorim, o investimento na produção da monocultura da cana é um retrocesso para o Brasil.
“Não vale a pena um país correr o risco de destruir a natureza, substituir a produção de alimentos por cana pra produzir etanol, quando existem outras alternativas, até, com certeza, muito menos poluentes do que a forma como é produzida a cana-de-açúcar no Brasil”.

Amorim também alerta que aproximadamente 30% das usinas no país já foram compradas por empresas internacionais, que também adquirem terras para a produção da cana.

“Agora além da concentração da terra, temos também a internacionalização das terras e das usinas. Isso é a perda da soberania nacional em todo esse processo”.

De São Paulo, da Radioagência NP, Vivian Fernandes. 09/06/11

http://www.radioagencianp.com.br/9845-investimentos-no-setor-sucroalcooleiro-sao-criticados-por-movimentos-sociais

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Quem não queria aço era a Vale ou era o Agnelli?

O  diretor de Marketing, Vendas e Estratégia da Vale, José Carlos Martins (foto), está na direção da empresa desde 2004.  Portanto, em seis dos dez anos que Roger Agnelli passou no comando da empresa, dizendo que era mau negócio investir na produção de aço e que o correto era cavar cada vez mais minério, para exportar.

É, portanto, uma pessoa insuspeita para falar do assunto.

E o que ele diz hoje à Agência Reuters?  Leia e acredite se quiser:

“Acredito que a demanda de aço no Brasil está crescendo forte, e que se os investimentos não forem feitos, vai haver a necessidade de importar mais aço”, disse Martins, da Vale.

Embora a mineradora tenha grandes projetos siderúrgicos, Martins afirmou que o setor de aço não tem feito “os investimentos no porte necessário”.

Ao comentar a perda de mercado interno nas vendas de minério, à medida que as siderúrgicas brasileiras também investem em produção própria de minério, Martins declarou:

“”A Vale tem que considerar perda de market share no Brasil. Para participar desse mercado, você tem que produzir aço”"

Ué, então não era a diretoria da Vale que achava péssimo investir em siderurgia, mas só o Agnelli? E ele não ouvia os outros diretores da empresa?

Brizola Neto | Tijolaço | 3 Jun. 2011

http://www.tijolaco.com/quem-nao-queria-aco-era-a-vale-ou-era-o-agnelli/

Vale prevê perda de fatia em vendas de minério no país

SÃO PAULO (Reuters) - A Vale projeta que em 2015 terá menos da metade da participação nas vendas de minério de ferro do Brasil que tinha em 2004, afirmou nesta quinta-feira o diretor de Marketing, Vendas e Estratégia da mineradora, José Carlos Martins.

A projeção leva em conta o fato de que cada vez mais as siderúrgicas nacionais vêm investindo em produção própria de minério, levando a Vale a perder market share das vendas locais da commodity.

Martins disse que em 2004 a Vale tinha cerca de 70 por cento das vendas de minério de ferro no mercado brasileiro, e hoje tem menos de 50 por cento. Em 2015 terá, segundo ele, 30 por cento.

"A Vale tem que considerar perda de market share no Brasil. Para participar desse mercado, você tem que produzir aço", afirmou ele em apresentação no Congresso Brasileiro do Aço.

O executivo indicou também que os projetos siderúrgicos da Vale, por outro lado, permitirão que a empresa estanque essa perda de market share. Em 2018, as vendas adicionais de minério de ferro e pelotas da Vale para seus projetos siderúrgicos somarão 30 milhões de toneladas ao ano.

"Em algum momento, você tem que fazer apostas para criar mercado (de aço) no Brasil. O país já pagou caro no passado porque o mercado não apareceu. E é natural, agora, que o setor seja precavido para evitar uma situação como aquela."

A Vale tem participação na siderúrgica CSA, no Rio de Janeiro, onde a capacidade de produção é de 5 milhões de toneladas de placas de aço ao ano.

A mineradora tem outros projetos para começar a produzir aço nos próximos anos, entre eles o da CSU, em Anchieta (ES), ainda em desenvolvimento, que pode entrar em operação em 2015, com capacidade anual de 5 milhões de placas de aço.

Questionado sobre parcerias no Espírito Santo, Martins afirmou a jornalistas, após a palestra, que a empresa está aberta a discutir com eventuais parceiros.

Já sobre o projeto da CSP em Pecém (CE), com estimativa de início a partir de 2015, Martins disse que o Conselho da Vale deverá aprová-lo em breve. A CSP terá capacidade para produzir, na primeira fase, 3 milhões de toneladas de placas de aço.

Também em processo de implantação está a Alpa, em Marabá (PA), com entrada em operação esperada para 2014 e capacidade de 2,5 milhões de toneladas de aço.

MAIS IMPORTAÇÕES?

Entre aço e produtos de aço, o Brasil teve importações recordes em 2010, de 10 milhões de toneladas, o equivalente à produção de duas unidades da Usiminas, de Cubatão (SP) e Ipatinga (MG), afirmou o presidente da siderúrgica Wilson Brumer, durante o evento.

Isso aconteceu, segundo Brumer, devido à competitividade do aço importado frente ao brasileiro por uma série de razões.

"Defendemos isonomia competitiva, temos que acabar com a guerra fiscal, queremos ações de investigação de dumping mais aceleradas", disse Brumer, durante a sua palestra.

Tais questões deveriam ser resolvidas, afirmaram palestrantes no evento, para que o setor siderúrgico do Brasil possa, com produção própria e mais investimentos, atender a crescente demanda interna.

"Acredito que a demanda de aço no Brasil está crescendo forte, e que se os investimentos não forem feitos, vai haver a necessidade de importar mais aço", disse Martins, da Vale.

Embora a mineradora tenha grandes projetos siderúrgicos, Martins afirmou que o setor de aço não tem feito "os investimentos no porte necessário".

Isso talvez se explique, de acordo com o presidente da Usiminas, porque investir no Brasil é "caro", e o custo é quase quatro vezes maior do que o existente para a construção de uma siderúrgica na China.

POTENCIAL DA INDÚSTRIA

Por outro lado, considerando um cenário apresentado pelo diretor da Vale de aumento de competitividade do aço nacional e de substituição de importações e ampliação de exportações, o Brasil poderia mais que dobrar a sua produção até 2012, para 90 milhões de toneladas.

O mercado interno absorveria mais da metade desse volume, ou 54 milhões de toneladas, previu ele, observando o crescente consumo interno nacional. Atualmente, o mercado doméstico fica com 27 milhões de toneladas.

De acordo com o Instituto Aço Brasil (IABr), a produção brasileira de aço bruto deve atingir 39,4 milhões de toneladas neste ano, alta de 19,8 por cento sobre 2010. A capacidade instalada das usinas siderúrgicas é de 47,4 milhões de toneladas anuais.

Por Roberto Samora e Alberto Alerigi Jr. | Reuters | quinta-feira, 2 de junho de 2011 19:48 BRT

http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE7510SW20110602?pageNumber=3&virtualBrandChannel=0&sp=true


Multi investe US$ 1 bi no aço que Agnelli achava “fria”

A Agência Reuters divulga agora à  noite que a ArcelorMittal Brasil pretende  instalar um laminador de 1 bilhão de dólares em sua usina siderúrgica de Tubarão (ES), para transformar as placas de aço excendentes da exportação e lâminas de aço destinados ao mercado interno brasileiro.

Bem, os dirigentes da multi devem ser loucos,se a gente considerar a avaliação do “gênio”  Roger Agnelli, que dizia  não fazer”tanto sentido investir em aço.”

E a reportagem da reuters ainda vai além:

“Além de voltar Tubarão para o mercado interno, a ArcelorMittal Brasil está ampliando a capacidade da usina em São Francisco do Sul (SC) de olho no aquecido mercado automotivo(…) a companhia conclui até o final deste ano contratos para a construção de uma terceira linha de galvanização que ampliará a capacidade de aços planos da usina de 1,35 milhão para 2 milhões de toneladas por ano, em investimento de 300 milhões de dólares. A nova capacidade deve começar a operar entre o final de 2013 e início de 2014".

Brizola Neto | Tijolaço | 2 Jun. 2011

http://www.tijolaco.com/multi-investe-us-1-bi-no-aco-que-agnelli-achava-fria/


ArcelorMittal Brasil quer novo laminador de US$1 bi

Com isso, o alto-forno 1, de 3 milhões de toneladas, vai parar a partir de abril de 2012 para passar pela primeira reforma geral desde que começou a operar em 1983. "Normalmente os alto-fornos têm campanha de 10, 15 anos, mas esse vamos parar com 29 anos de operação, um recorde mundial."

Segundo Baptista, antes da reforma de 90 dias começar em 1o de abril de 2012, o alto-forno 1 de Tubarão terá que reduzir o ritmo para ser esvaziado sem comprometer a instalação e "isso significa que vamos ter que começar a fazer uma redução na produção do forno lá para outubro, chegando a zero no final de março".

Enquanto o forno 1 é desligado e reformado, o alto-forno 2, com capacidade para cerca de 1 milhão de toneladas por ano, será religado depois de ficar inerte desde 2008, após a crise financeira internacional que derrubou a demanda mundial, disse o executivo.

Segundo ele, não há garantias de que após a reforma do alto-forno 1 a usina continuará operando a unidade 2.

"Ele (alto-forno 2) está em 'standby', decidimos não ligar ainda porque toda a produção de placa é voltada para exportação. Ele usa ainda pelotas, que é muito mais caro que minério de ferro. Fazendo a conta, não justifica, não tem mercado internacional que dê preço para se ter rentabilidade."

BRASIL ESTÁ CARO

O executivo comentou que apesar de 25 por cento da produção da companhia no Brasil ser destinada à exportação, o mercado interno mostra vantagens sobre o externo.

"O Brasil está caro, nos últimos 5 anos ficamos 80 por cento mais caros em dólar. Com essa situação é óbvio que a competitividade que o país tinha na exportação de aço foi muito afetada e, portanto, o foco das siderúrgicas é atender o crescimento da demanda doméstica."

Além de voltar Tubarão para o mercado interno, a ArcelorMittal Brasil está ampliando a capacidade da usina em São Francisco do Sul (SC) de olho no aquecido mercado automotivo.

Baptista disse a companhia conclui até o final deste ano contratos para a construção de uma terceira linha de galvanização que ampliará a capacidade de aços planos da usina de 1,35 milhão para 2 milhões de toneladas por ano, em investimento de 300 milhões de dólares. A nova capacidade deve começar a operar entre o final de 2013 e início de 2014, disse o executivo.

Reuters | quarta-feira, 1 de junho de 2011 18:57 BRT

http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRSPE7500Q720110601?pageNumber=2&virtualBrandChannel=0

Sobre o "caso Vale"

terça-feira, 31 de maio de 2011

Memória de um Brasil privatizado

Imagine que você trabalhou toda uma vida para adquirir um patrimônio. E que, em meio a dívidas, tenha decidido vendê-lo para colocar as contas em dia. Agora imagine que o comprador anda meio sem grana. E que você resolve emprestar para ele o dinheiro com o qual seu patrimônio será comprado. O comprador te pagaria de volta a perder de vista, assim que começasse a lucrar com o que acaba de adquirir. Detalhe: você teria vendido justamente os bens com os quais gerava parte de sua renda. E por um preço bastante abaixo do valor de mercado. Pois foi assim que se deu boa parte das privatizações realizadas no Brasil no governo de FHC. O artigo é de Tiago Soares.

Tiago Soares
Data: 21/10/2010

Artigo publicado originalmente no blog El estupendo grouchomarxista

Este artigo é um apanhado do que foi o processo de privatização tocado por José Serra e FHC durante o governo tucano. A intenção é compilar, num relato ligeiro, informações que sirvam para esclarecer interessados e interessadas no debate.

Boa parte dos dados que compõem o texto foi retirada do clássico “O Brasil Privatizado”, de Aloysio Biondi. O resto das informações foi levantada em notícias antigas, sites de organizações, partidos e sindicatos e páginas oficiais.


Imagine que você trabalhou toda uma vida para adquirir um patrimônio. E que, em meio a dívidas, tenha decidido vender uma ou outra coisa para colocar as contas em dia.

Agora imagine que o comprador, durante a negociação, tenha lhe confidenciado que anda meio sem grana. E que então você, ansioso/a para bater o martelo, resolva emprestar para o interessado o dinheiro com o qual seu patrimônio será comprado. O comprador te pagaria de volta a perder de vista, assim que começasse a lucrar com o que acaba de adquirir. Detalhe: você teria vendido justamente os bens com os quais gerava parte de sua renda. E por um preço bastante abaixo do valor de mercado.

Pois foi justamente assim que se deu boa parte das privatizações realizadas no Brasil no governo de Fernando Henrique Cardoso, de meados da década de 1990 até 2002. Empresas públicas produtivas, como a Vale do Rio Doce e a Light, vendidas a preços muito abaixo do que realmente valiam, com financiamento público a perder de vista.

Tendo como argumentos o abatimento da dívida, a atração de capital estrangeiro, o aumento da produtividade e a melhoria dos serviços aos cidadãos e cidadãs, o patrimônio brasileiro foi colocado à venda e oferecido a alguns poucos grupos econômicos internacionais, financiados por bancos estrangeiros e com ajuda do próprio governo brasileiro. O que se escondia, porém, é que na antesala da privatização a infraestrutura das empresas era sucateada, numa política de depreciação do patrimônio nacional, jogando no desemprego dezenas de milhares de profissionais qualificados.

E não foi só isso. Para tornar o negócio atraente, o governo abateu as dívidas das empresas com a União e realizou ajustes de tarifas, puxando para cima os preços dos serviços e garantindo enorme lucro futuro aos investidores. Para se ter uma ideia, o reajuste nas tarifas telefônicas chegou a 500%; no caso da energia elétrica, a coisa ficou na faixa de 150%. E ao contrário de outros países, nos quais os processos de privatização exigiam que as companhias baixassem gradualmente as taxas cobradas pelos seus serviços, o combinado pelo governo FHC foi que os novos donos das empresas estatais poderiam seguir ajustando os preços anualmente, segundo a taxa de inflação.

Para convencer a opinião pública, governo e meios de comunicação defendiam que a venda das estatais atrairia dinheiro do exterior, reduzindo as dívidas externa e interna do Brasil. E, na verdade, ocorreu o contrário: além de “engolir” as dívidas de todas as estatais vendidas (o que aumentou a dívida interna), parte razoável do dinheiro levantado pelos investidores vinha de bancos estrangeiros. O que significou que, no fim das contas, as companhias recém privatizadas, já comprometidas com dívidas junto a grupos financeiros internacionais, seriam obrigadas a enviar grande parte do dinheiro que fizessem para o exterior. Algo que não aliviou – na verdade, piorou – a dívida externa nacional.

Para complicar ainda mais a situação, o próprio governo financiou parte da compra, oferecendo empréstimos do BNDES e trocando crédito pela aquisição de títulos da dívida pública. Medidas que acabaram se tornando um contrasenso, já que, ao oferecer no Brasil parte do dinheiro a ser investido nos leilões, os potenciais compradores acabaram sem grande estímulo para trazer dólares de fora para o país. Dólares que, justamente, eram alardeados desde o início como um dos motivos para a privatização.

No fim das contas, foi o seguinte: o Brasil entregou boa parte de seu patrimônio a preço de banana para uns poucos grupos econômicos; a dívida pública aumentou assustadoramente (de cerca de 30% do PIB, em 1995, para quase 60% do PIB em 2002); e a política de investimentos do BNDES, que estimulava a remessa de dólares para o exterior, acabou provocando uma recessão que atingiu as famílias do país, numa quebradeira generalizada que levou a enormes índices de desemprego.

No geral, foram privatizadas, entre 1990 e 1999, 166 empresas, com 546 mil postos de trabalho extintos diretamente. O que, comparado ao número de privatizações ocorridas desde meados da década de 1980 (19 companhias, entre 1985 e 1990) apenas prova a sanha privatista do projeto do PSDB. Um negócio que, muito bom para alguns lobistas e umas poucas empresas estrangeiras, se mostrou, em pouquíssimo tempo, péssimo para o povo brasileiro.

Só pra se ter uma ideia, alguns casos:

BNDES

Um dos principais responsáveis pela rápida saída do Brasil da crise econômica mundial de 2008, o BNDES quase foi privatizado no governo do PSDB. O banco, que nos últimos anos vem garantindo o crédito e o investimento no país, foi listado em 2000, a pedido do ministério da Fazenda, numa avaliação de possíveis privatizações do setor bancário. A iniciativa teria sido uma imposição do FMI.

Quem diz é o site do Ministério da Fazenda:

“Com determinação o governo dará continuidade à sua política de modernização e redução do papel dos bancos públicos na economia. O Banco Meridional uma instituição federal foi privatizado em 1998 e em 1999 o sexto maior banco brasileiro o BANESPA agora sob administração federal será privatizado. Ademais o Governo solicitou à comissão de alto nível encarregada do exame dos demais bancos federais (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, BNB e BASA) a apresentação até o final de outubro de 1999 de recomendações sobre o papel futuro dessas instituições tratando de questões como possíveis alienações de participações (grifo do autor) nessas instituições fusões vendas de componentes estratégicos ou transformação em agências de desenvolvimento ou bancos de segunda linha. Essas recomendações serão analisadas e decisões serão tomadas pelo Governo antes do final do ano sendo que as determinações serão implementadas no decorrer do ano 2000.”

Banespa

Privatizado em 2000, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, o Banco do Estado de São Paulo (Banespa) foi adquirido pelo espanhol Santander por R$ 7 bi. Para se ter uma ideia do mau negócio, entre meados e o fim da década de 1990 o Estado brasileiro havia injetado R$ 50 bi na instituição. R$ 15 bi destes, apenas nos esforços de saneamento prévios ao processo de privatização: o que, descontado o dinheiro conseguido nos leilões, acabou num prejuízo de, no mínimo, R$ 8 bi aos cofres públicos.

Mais que isso: para tornar o negócio atraente, o governo brasileiro liberava o novo (e privado) dono do banco de qualquer contrapartida social (como financiamentos para a agricultura familiar, por exemplo).

Ou como disse ao portal Terra o presidente do Banco Central na época, Armínio Fraga, sobre a privatização do banco paulista:

“Fraga explicou que o Banespa privatizado não terá de manter sua atuação em “políticas públicas”, como financiamento a pequenos agricultores, por exemplo. “A privatização deixa clara a separação entre o negócio privado e uma política pública”.”

Vale do Rio Doce

Considerada a segunda maior mineradora do mundo, a Vale do Rio Doce (hoje, Vale S. A.) foi privatizada pelo governo do PSDB em 1997, por R$ 3,3 bi. O valor, muito abaixo de mercado, equivale a menos que ela obtinha por ano em 1995 – e, hoje, a algo em torno do feito em apenas um trimestre.

Mais que isso, o processo de privatização esteve envolto em graves suspeitas de corrupção, com acusações de cobrança de propinas milionárias por Ricardo Sérgio, lobista encarregado da montagem do consórcio vencedor. Causou polêmica, ainda, a intervenção do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na composição dos grupos que concorriam pela companhia, numa ação vista como decisiva para o resultado final do leilão.

Petrobrás

Recentemente alçada ao posto de segunda maior petrolífera do mundo, a Petrobrás foi, ao longo de toda a era tucana, sondada quanto à sua possível privatização. Numa declaração recente, o atual presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, chegou a afirmar que “Para o governo FHC, a Petrobras morreria por inanição. Os planos do governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso eram para desmontar a Petrobras e vendê-la”.

Com a descoberta do pré-sal, a Petrobrás oferece ao país a oportunidade de tornar-se uma das maiores potências globais na área de energia. Pelo projeto proposto pelo governo Lula, boa parte dos rendimentos futuros do governo com as novas jazidas, na casa dos trilhões de dólares, deverão ser investidos num fundo soberano para investimentos em educação e ciência e tecnologia.

Além disso, o processo de capitalização da Petrobrás, no qual foi dada ao público a possibilidade de adquirir participação na empresa pela aquisição de ações, foi aberto a toda a população brasileira – ao contrário do processo de privatização defendido pelos tucanos, restrito a alguns poucos grupos econômicos internacionais.

A respeito das intenções de um hipotético governo do PSDB para a gestão do pré-sal, especula-se a retomada de uma agenda fortemente privatista para o setor. Em declaração recente ao jornal Valor Econômico, o principal assessor de José Serra para a área de enrgia, David Zylberstajn, afirmou que “Não tem que existir estatal comprando ou vendendo petróleo”.

Vale lembrar que Zylberstajn foi, no governo FHC, presidente da Agência Nacional do Petróleo, e um dos principais entusiastas da privatização da Petrobrás. Para se ter uma ideia, numa sondagem de mercado hoje reduzida ao anedotário histórico, chegou-se a especular que, num esforço para torná-la mais palatável a possíveis compradores estrangeiros, a companhia fosse rebatizada como “Petrobrax”.

Privatizações no governo José Serra

Quando governador de São Paulo pelo PSDB, José Serra pediu avaliações referentes à possível privatização de pelo menos 18 empresas pertencentes ao estado. Entre as companhias oferecidas ao setor privado, estariam nomes tradicionais como a Nossa Caixa, a Sabesp, o Metrô, CPTM, a Dersa e a CDHU.

E o banco Nossa Caixa, na verdade, escapou por pouco – posta em leilão, a instituição financeira acabou arrematada pelo Banco do Brasil, num esforço do Governo Federal para impedir que a companhia caísse nas mãos de grupos privados.

Em seu meio (porque até a metade) mandato à frente do estado, José Serra foi, no fim das contas, apenas fiel ao que defendia quando ministro do planejamento do governo FHC. Quem o diz é o proprio ex-presidente, que ressaltou, em conversa recente com a revista Veja, o entusiasmado papel desempenhado por Serra nas privatizações da década passada.

Este artigo foi publicado originalmente em:


O livro O Brasil Privatizado, de Aloysio Biondi, é disponibilizado em PDF pela Fundação Perseu Abramo.

Sobre o "caso Vale"

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Cadeirante denuncia dificuldade de conviver com a estrutura da cidade


José Luis da Silva Costa é brasileiro de Barra do Corda – MA, mora no assentamento Califórnia no município de Açailândia. Conhecido como Zé Luis, construiu uma carreira de liderança no Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do qual é um dos principais articuladores. Na Califórnia, a luta de Zé Luís se junta às ações da campanha Justiça nos Trilhos, ONG internacional que mescla Igreja, Movimento estudantil, partido político e movimento social e denuncia abusos cometidos pela segunda maior mineradora do mundo: a Vale (antiga Companhia Vale do Rio Doce).

Estudante de Comunicação Social – habilitação Jornalismo, Zé Luís deixa o assentamento Califórnia todas as manhãs com destino ao campus da UFMA de Imperatriz e apesar da condição de cadeirante, não se deixa abater pelas dificuldades. Em sua luta social, José Luis da Silva Costa denuncia o descaso com os cadeirantes e reforça o coro da campanha Justiça nos Trilhos, como mostra essa entrevista.

1) Na condição de cadeirante você enfrenta problemas que vão desde a falta de estrutura urbana adequada até o abuso de certas instituições e pessoas por causa da sua condição. O que é mais difícil?

Rapaz, o que é mais difícil de enfrentar é o fato da gente não ter uma cidade preparada para um cadeirante. De uma forma geral, se você vai numa loja tem calçada, se você for almoçar num restaurante popular, você tem que ir necessariamente pelo meio da rua, porque as calçadas não te dão condições de tráfego, se for atravessar uma faixa de pedestres você tem que ir pelo meio da rua porque a faixa não vai de encontro a uma rampa que deveria ter, tu vais numa lanchonete/bar se precisar utilizar o banheiro este não vai ser adaptado para um cadeirante. O fato de eu estudar e ter que pegar duas conduções todos os dias pra vir à Imperatriz serve como denuncia dessa situação, espero que as empresas de ônibus criem condições de acessibilidade para as pessoas que usam cadeiras de rodas porque na verdade é um direito nosso e dever deles.

2) Algumas empresas de ônibus em Imperatriz já fixaram em suas conduções o símbolo de acessibilidade e afirmam que prestam esse serviço. Cerca de 17 ônibus são adaptados e sua queixa não confere segundo essa perspectiva. Afinal, os ônibus de Imperatriz estão adaptados?

Rapaz, eles não estão adaptados eu acho que mesmo adaptados precisa – se também adaptar a cabeça dos donos dessas empresas, dos patrões. Tem uma empresa que tem 15 ônibus adaptados pra cadeirante, mas nenhum funciona pelo menos os que passam na minha rota. Ou acontecem que os ônibus não têm manutenção daquele equipamento, ou acontece que o motorista está com preguiça de levantar de lá e vir mexer no equipamento, pois quando colocaram esses ônibus, os cobradores foram demitidos, então só tem um motorista como funcionário daquele ônibus o que torna a situação complicada. A outra empresa tem dois ônibus adaptados, essa me surpreendeu um dia desses:; eu peguei um ônibus que há tempos eu não pegava, o 2040, que não funcionava, tava quebrado. Um dia desse ele parou e me trouxe até a UFMA, e eu fiquei surpreso. Eu até falei com o motorista: “olha, bota esse ônibus nessa linha porque o cadeirante que usa sempre essa linha sou eu”. No outro dia os donos dessa empresa tiraram o ônibus da linha, ou seja, a cabeça dos donos dessas empresas precisam também se adaptar a essa condição.

4) O seu discurso no movimento estudantil se equipara aos seus discursos partidário, de movimento social e religioso. Essa interconexão foi o que te permitiu optar pelo PSOL, MST e Teologia da Libertação?

Eu só estou no PSOL e no MST por causa da Teologia da Libertação e só fui da Teologia da Libertação porque eu me formei cristão dentro de uma comunidade católica que seguia essa linha da Igreja Católica, apesar de hoje eu estar sem religião nenhuma por causa de outras decepções com a própria Igreja. Ma, mas, o meu posicionamento político veio a partir da Teologia da Libertação, então, minha consciência política, de movimento estudantil e de Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra veio a partir da Teologia da Libertação.

5) Vocês têm tecido duras críticas à Igreja Católica, principalmente aos segmentos opostos a Teologia da Libertação, As críticas vão desde o comportamento conservador do clero à “acomodação” da Renovação Carismática em relação aos problemas sociais. Isso possui alguma relação com o fato de você não ter não ter concluído suas atividades no seminário e por conseqüência não ter alcançado o grau de sacerdote?

Não, porque, quando eu entrei no seminário eu já tinha essas críticas. Eu acho que (podem concordar ou não comigo, mas esse é meu ponto de visa e o ponto de vista da parte da igreja que eu seguia) a Igreja tem que ter um olhar diferente para as pessoas e para o mundo. São questões que estão muito na tradição e no passado. Ela tem um comportamento do século XVIII que eu acho que deveria ser mexido nesse momento que vivemos. A Teologia da Libertação traz essa ponta de esperança onde a Igreja assume uma opção preferencial pelos pobres, onde o pobre não é pobre porque Deus quis, mas porque existe alguém que surrupiou todos os bens que ele poderia ter para ter uma vida digna. A minha crítica vinha antes de entrar na Igreja, inclusive no seminário tivemos várias discussões por conta disso.

6) O vídeo “Não Vale” produzido pela ONG Justiça nos Trilhos mostra uma série de denúncias contra a mineradora Vale, principalmente da falta de sinalização adequada na via férrea ao longo do corredor da Estrada de Ferro Carajás (Parauapebas / PA – São Luís / MA). Você é uma das lideranças que tece duras críticas a mineradora, quando denuncia a poluição causada pelas carvoarias da Vale no assentamento Califórnia e no distrito Pequiá de Baixo, Município de Açailândia - MA. Você não tem medo de represálias ou de atentados contra a sua vida?

Rapaz. Olha, medo eu acho que posso dizer que não tenho, mas o medo faz parte da segurança da gente, se eu tenho medo de ir por aquela rua e eu preciso ir por aquela rua eu já vou mais precavido de alguma coisa, porém, eu acho que a Vale por ser uma mineradora mundialmente conhecida, ela não se importaria de (sei lá) eu acho que um “caiderantesinho velho qualquer desse que mora em Açailândia não faz nenhum medo pra ela não”. Em relação a Vale não, se fosse em outros tempos eu teria medo, mas em relação a Vale eu não tenho medo. Posso até me decepcionar em relação a isso, mas acho que ela não teria coragem de fazer nada contra a vida de ninguém, nem a minha, nem a do padre que ajuda a gente, nem dos colegas que fazem parte lá da luta com a gente na ONG Justiça nos Trilhos.

7) O MST e a ONG Justiça nos Trilhos acusam o poder público de omissão aos abusos e submissão à Vale. Essa denúncia é grave, assim como as outras, mas nada de concreto foi definido sobre essas questões. As denúncias foram feitas no vídeo “Não Vale” produzido pela ONG.  O que te leva a crer que o poder público é omisso e submisso à Vale?

Rapaz o que demonstra claramente ali, é que a Vele consegue ter o controle político da região, das Prefeituras, do governo estadual. A Vale só conseguiu instalar uma carvoaria do lado do assentamento porque na época era a governadora Roseana Sarney que concedeu a autorização. Então agente sabe dessas “maracutaias” que existem, apesar de hoje parecer existir um pequeno conflito entre a Vale e o Edson Lobão, não sei até que ponto isso é verdadeiro ou falso, o que eu sei é que a Vale tem esse controle político (econômico) dessas instituições, tanto municipais como estaduais e principalmente federais.

8) Depois da apresentação da Peça “Que trem é esse?”, promovida pela ONG na Semana H de história realizada ano passado na UEMA, ficou nítido o interesse de setores ligados ao movimento estudantil em relação à proposta da implantação do comitê da ONG Justiça nos trilhos em Imperatriz – MA. De que os estudantes podem contribuir nas atividades da ONG aqui em Imperatriz?

A ONG precisa desse reforço, talvez esteja aí um bom momento e uma oportunidade de trazer as atividades dessa campanha para Imperatriz. Por exemplo, teve algumas atividades lá em Açailândia em que estudantes de Jornalismo foram participar. A professora Msc. Emilene participou de algumas reuniões, tem contato com os padres combonianos, desenvolveram alguns trabalhos, só que houve um distanciamento depois. Os estudantes da UEMA de história, letras, pedagogia podem contribuir e os estudantes de Jornalismo da UFMA também, cada um na sua área de formação. Isso talvez seria o pontapé inicial para trazer a ONG pra cá (Imperatriz).

9) Imperatriz não está inserida nesse eixo do corredor da Estrada de Ferro Carajás, onde acontece a maior parte dos abusos denunciados pela ONG. Qual seria a linha de ação da ONG Justiça nos Trilhos em Imperatriz caso esse comitê seja criado?

Olha, na verdade, essa pergunta eu acho que o Padre Dário poderia ter mais facilidade para responder ou então o nosso advogado que é o Danilo (não sei o sobrenome dele, é um sobrenome enrolado), mas eu posso dizer o seguinte: Justiça nos Trilhos, a ONG, a campanha faz um levantamento dos crimes causados por onde passa os trilhos da Vale. Eu não sei até que ponto poderia se estender isso a Imperatriz mas é por aí”. Se os trilhos da Vale passam por aqui então tem que ser dito. No entanto, nossa maior briga agora (mesmo que a gente não impeça) é contra a duplicação da ferrovia (Estrada de Ferro Carajás) que já começou.

* Entrevista produzida para a disciplina de Gêneros Jornalísticos

Hilton Marcos Ferreira | Qua, 25 de Maio de 2011 12:47 | atualização 20:24

http://www.imperatriznoticias.com.br/noticias/geral/3469-cadeirante-denuncia-dificuldades-de-conviver-com-a-estrutura-urbana-da-cidade